Bem Vindo ao Blog de Fco. Santos - PI

Bem Vindo ao Blog de Fco. Santos - PI
Mate a sua saudade da Nossa Terra

DÔE PARA O BLOG DE FRANCISCO SANTOS - PI

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Homenagem so Conterrâneo, de José Carmo a Licínio Pereira.

6º Homenageado: Licínio Pereira

O Admirável Padrinho

Era o início do quarto trimestre de 1962. Estudava e prestava o serviço militar na vizinha cidade de Picos. De repente, vi-me nomeado Escrivão Interino do Cartório de Registro Civil, da cidade de Francisco Santos, em substituição à bela e educada Rosita. Esta mudança estava atrelada ao jogo político do momento, ocasionado pela posse do Sr. Tibério Nunes, na vaga deixada pelo Governador Chagas Rodrigues, que pertencia a outra agremiação política.

Com a investidura naquele cargo, nas circunstâncias já descritas, tornava-se imperativa a minha ida semanal à cidade de Francisco Santos. Em uma destas ocasiões, lembro-me atravessando o beco que separava as casas de Areolino e de João Velho (hoje de outros proprietários). Em sentido contrário, aproximava-se de mim a figura tão conhecida e estimada de meu padrinho de procuração (o efetivo era o meu bisavô Germano Barbosa, residente em Valença-PI). Como de hábito, estendi-lhe a mão pedindo sua bênção. Após o rápido cumprimento, defrontei-me, de súbito, com a intrigante pergunta: quantos casamentos já realizou, indagava o meu padrinho? Antes mesmo que pudesse cogitar qual o seu real significado, ouvi estrepitosa gargalhada, marco final daquele breve encontro.

Segui em frente tentando decifrar o mistério contido naquele gesto inusitado. Percebia tratar-se de fina ironia, mas não sentia nenhum laivo de ofensa. Acaso o meu padrinho estaria insinuando que não tinha capacidade para o exercício daquele ofício? Ou queria ele dizer que a maioria esmagadora do povo (que passara à oposição) deixaria de procurar os serviços cartoriais, somente como uma forma de protesto? Era um verdadeiro quebra-cabeça, na minha imaturidade de então, não chegando, portanto, a nenhuma conclusão, naquele momento.

Algum tempo depois tomava conhecimento, por força da própria experiência, da razão por que o casamento civil em Francisco Santos era tão raro, naquela época. Muito simples: a maioria dos nubentes aguardava o período eleitoral, com o suspeito propósito de que o ônus financeiro fosse assumido por algum candidato ou partido político. Estavam, pois, dirimidas as minhas dúvidas e o aparente enigma não mais subsistia. O meu padrinho se valeu desta informação, que já era de seu conhecimento, para exteriorizar a sua habitual e jocosa verve.

Quem conheceu Licínio Pereira vai concordar comigo. Era um homem de coração imenso, de sentimentos nobres. Exemplificou em família e fora dela, sempre amparado nos bons princípios. Amoroso, compassivo, afável no trato, alegre, acolhedor, era realmente um homem de bem. Pecados certamente ele os tinha, mas suas qualidades e virtudes predominavam a tal ponto que, de pecador, parecia mais com um santo.

Caráter reto, conduta ilibada, foi um farol a guiar sua geração. Entre tantas qualidades importa ainda acrescentar seu lado indulgente, como se pode depreender do seguinte acontecimento que era comentado entre as pessoas mais íntimas: teria ele se deparado com um amigo do alheio em plena ação dentro de propriedade sua e tomado a decisão de retroceder sem um pigarreio sequer, para não ferir aquele coração em desalinho.

Por longo tempo foi administrador dos interesses materiais da igreja católica local, quando ela ainda se posicionava no sentido norte/sul, na Rua de Baixo, como era conhecido o quadrilátero formado atualmente pelas ruas S. José, Simplício Pereira e Praça Licínio Pereira

Na sua casa se hospedavam o padre, o sacristão e outros dignitários que de vez por outra visitavam o então povoado de Jenipapeiro. Naquelas oportunidades sua residência se transformava no centro das atenções, o ponto para onde se convergiam todos os olhares.

Quantos corações ele confortou! Quanta alegria ele proporcionou! Quantos exemplos de desprendimento e decência ele legou à posteridade! Figura carismática, era muito respeitado e querido pelos seus conterrâneos, justificando plenamente um lugar de melhor destaque nos anais de nossa cidade.

Portanto, que estes singelos comentários sirvam pelo menos como estímulo a quem, melhor dotado de recursos literários, se disponha a fazer o merecido registro histórico desta extraordinária personalidade, cujo brilho tanta falta faz nestes tempos de apagão moral.

José Carmo Filho

Nota. O autor, para quem não o conhece, é filho de José Carmo da Silva e Ana Maria dos Santos, já falecidos, e irmão de Maria Ana, Pepeta, Toinha, Luis e Enói.

2 comentários:

  1. Parabéns ao amigo José Carmo Filho, alto funcionário do Tribunal de Contas do Distrito Federal, que, com inteligência e capacidade literária, escreveu esta bela homenagem prestada ao senhor Licínio Pereira, - figura conhecida e admirada pela população de Francisco Santos, em épocas passadas. Parabenizo o blog por publicar estas manifestações, verdadeiras páginas históricas de nossa cidade. Que sirva de incentivo para outros leitores se manifestarem sobre pessoas, fatos e histórias de Francisco Santos.
    João Erismá de Moura - Brasília-DF.

    ResponderExcluir
  2. De figuras sérias, honestas e desprendidas como Licínio Pereira a terrinha está muito a precisar. Chodó, Elizeu, Francisquinha e tantas outras merecem igual preito de homenagem.
    Zezé de Zé de Carmo! Perdoe-me o uso da antiga alcunha. É que ler sua homenagem a seu Licínio me remeteu a um tempo de "descompromisso" em que os sonhos quanto ao futuro eram quase como nuvens em céu de vento. Lembras das nossas serestas, dos nossos "inocentes" aperitivos. Alegrou-me bastante saber, através do comentário de Erismá, o quanto progrediste profissionalmente falando. Daqui de Teresina mando-te o meu fraterno abraço.
    João Bosco

    ResponderExcluir

Muito Obrigado pela sua visita volte sempre e continue comentando no Blog!