Bem Vindo ao Blog de Fco. Santos - PI

Bem Vindo ao Blog de Fco. Santos - PI
Mate a sua saudade da Nossa Terra

DÔE PARA O BLOG DE FRANCISCO SANTOS - PI

sábado, 24 de março de 2012

Justiça Itinerante realiza casamento comunitário em Francisco Santos

Na tarde desta quinta feira foi realizado em nosso municipio o casamento civil  de 85 casais gratuitamente. A cerimônia  foi realizada no ginásio poliesportivo Josê Licinio dos santos, com a presença de varios familiares e convidados. A união foi presidida por o juiz Dr Franco Moretti, na solenidade teve comoção pois tinha casais de todas as idades se unindo perante a lei.







Publicado por: Uyldes Resende 
Fonte: 180graus


domingo, 11 de março de 2012

Texto do Escritor João Bosco



O PREZADO AMIGO ANTÔNIO JOSÉ TEM, INSISTENTEMENTE, ME CONVIDADO PARA ESCREVER UMA COLUNA SEMANAL PARA O SEU BLOG. INICIALMENTE, DIZIA ELE, SOBRE POLÍTICA. RESPONDI-LHE QUE POLÍTICA NÃO ERA O "MEU FRACO", MESMO PORQUE NÃO RESIDIA EM FRANCISCO SANTOS, PARA ESTAR A PAR DOS ACONTECIMENTOS DO DIA A DIA, ACRESCENTANDO QUE, NOVAMENTE, RECUSAVA O CONVITE, TENDO EM VISTA TRÊS RAZÕES: 1) A PAIXÃO DE NOSSA GENTE PELO TEMA, PRINCIPALMENTE EM ANO DE ELEIÇÃO PARA PREFEITO, QUANDO OS ÂNIMOS FICAM MAIS ACIRRADOS; 2) COMO TENHO AMIGOS DOS DOIS LADOS, PODERIA DESGOSTAR UM OU OUTRO COM AQUILO QUE ESCREVESSE; E, 3) A FALTA DE APTIDÃO PARA ARTICULISTA, JÁ QUE NADA ENTENDO DE JORONALISMO, CASO EM QUE A FORMA DE ESCREVER É TOTALMENTE DIVERSA DO TIPO DE LITERATURA QUE PRATICO.
DIANTE DISSO, ELE, ENTÃO, ME LIBEROU PARA ESCREVER SOBRE QUALQUER ASSUNTO, FOSSE CRIANDO CRÔNICAS, NARRANDO EPISÓDIOS OU, INCLUSIVE, POSTANDO PARTE DO QUE JÁ TENHO ESCRITO EM LIVROS OU ESPARSOS. ASSIM SENDO, PARA NÃO DESATENDÊ-LO E NÃO PARECER INGRATO COM QUEM TANTO TEM ME DADO APOIO, DESDE O PRÉ-LANÇAMENTO DO "JENIPAPEIRO" ATÉ HOJE,  DECIDI POSTAR PARTE DE UM CAPÍTULO DO MEU ROMANCE "PENSÃO CACILDA - Familiar", ESCRITO EM 1965, EM QUE DOU CONTA DE ALGUNS ASPECTOS DA VIDA SOCIAL E POLÍTICA EM NOSSA TERESINA DAQUELA ÈPOCA. NESSE PEQUENO EXTRATO PODERÁ O LEITOR, JOVEM OU NÃO, PERCEBER QUE POUCA COISA MUDOU DE ENTÃO PARA CÁ, NO QUE DIZ RESEPITO ÀS PRÁTICAS POLÍTICAS, SEJA EM NOSSA TERRA, SEJA PELO BRASIL AFORA 
FICA A CRITÉRIO DO LEITOR A APRECIAÇÃO E JULGAMENTO.

QUE TENHAM UMA BOA (OU MÁ) LEITURA.

 
 JOÃO BOSCO DA SILVA

 
                                                                               - 0 –
CAPÍTULO DEZ
                                                                         1.
É AGOSTO e o rio Parnaíba mostra suas coroas de areia alvíssimas, proporcionando aos habitantes da capital um arremedo de praia em cujas águas doces afoitos banhistas realizam profundos mergulhos, ao passo que outros, mais cautelosos ou medrosos, ficam pelas beiradas, deixando que a água só lhes chegue à cintura.
            O rio é perigoso e traiçoeiro. Apesar das águas aparentemente plácidas, seus muitos buracos e depressões no leito provocam “funis”, que já tragaram a vida de incautos e afobados banhistas.
            O vento, quente e forte, sibila nos metais da bela ponte férrea, sobre cujos trilhos a “Maria Fumaça” desliza faz dezenas de anos, transportando pessoas e fazendo o escambo de mercadorias entre o Piauí e o Maranhão. Em homenagem a esse velho trem, João do Vale, inspirado compositor maranhense, compôs um belo xote, cujos primeiros versos leem-se abaixo.
                        Peguei o trem em Therezina
                        Pra São Luís do Maranhão;
                        Atravessei o Parnaíba,
                        Ai, ai, que dor no coração.

                        O trem danou-se naquelas brenhas,
                        Soltando brasa e comendo lenha
                        Comendo lenha e soltando brasa,
                        - Tanto queima como atrasa.
                        . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
                        Ai, ai, Coroatá,
                        Os cearenses acabam de chegar...
             Referência às centenas de cearenses e nordestinos de outros estados que demandavam o Maranhão fugindo do rigor das secas que sempre assolaram os sertões, periodicamente. Ganha destaque o cearense em virtude de outra famosa canção intitulada “Súplica Cearense”, de autoria de Gordurinha, cantor e compositor baiano, em que também se cantam os horrores da seca.
                        Meu Deus, perdoe eu encher os meus óios de água,
                        Por ter lhe pedido, cheinho de mágoa,
                        Pro sol inclemente se arretirar;
                        Desculpe eu lhe pedir a toda hora pra chegar o inverno,
                        Desculpe eu lhe pedir pra acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará.
             Em geral, os passageiros desse trem movido a lenha chegam aos vários destinos – Caxias, Codó, Coroatá, São Luís ou vice-versa – com a roupa furada em vários lugares em consequência das faíscas desprendidas ao longo do percurso pela caldeira fumegante, penetrando pelas janelas em coruscantes fagulhas.
            É um belo espetáculo ver passar o trem, carinhosamente apelidado de Maria Fumaça! Rufando estrepitosamente – café com pão, bolacha não; café com pão, bolacha não –, e soltando alegres rabos de fogo por ambos os lados, sobrepõe-se à ponte em extensão, pois quando a cabeça do “bicho” atinge o lado de Teresina, seus últimos vagões ainda se arrastam pela Gurita de Timon.
            Ah, Velho Monge, majestoso e belo! Da Costa e Silva assim te cognominou – e imortalizou – em belo soneto.
                         Saudade! O Parnaíba, velho monge,
                        As barbas brancas alongando... E ao longe,
                        O mugido de bois da minha terra. 
            Libélulas e borboletas de mil cores pairam um pouco indecisas sobre o  espelho líquido do Velho Monge, para, depois, darem um rápido mergulho, repetindo aqui e além a façanha. A água, por sua vez ferida, parece gozar em convulsões concêntricas até voltar à placidez inicial, continuando a descida inexorável para o mar distante.
            Espetáculo singelo que os frequentadores das coroas não sabem apreciar. O rebuliço, a azáfama, o zunzum nas areias redivivas afugentam a natureza, que se retrai e se recolhe em si mesma ante a invasão do centauro urbano em busca de lazer e diversão.
            O mundo buliçoso lá de fora chegou até nós. O estrangeiro já é velho conhecido. Os termos tomados de empréstimo a outras línguas aí estão para prová-lo: expert, sex appeal, rush, development, rendez-vous e tantos outros. Estão aí os jornais, revistas, rádio e telefone, vendendo a retalho notícias ainda fresquinhas, dos quatro cantos do mundo. Uma estação de rádio local chega ao cúmulo de anunciar que “aqui se dá a notícia antes de o fato acontecer”. As revistas pornográficas, embora ainda de forma dissimulada, insinuam as maravilhas de corpos seminus em suas formas calipígias. O cinema, versão ampliada da imagem em movimento, ensaia passos no mesmo sentido, embora também com certo cuidado na exposição. Comenta-se em qualquer esquina a última descoberta da ciência; em qualquer boteco, os avanços da tecnologia. Manchetes apregoam com estardalhaço o último crime, o derradeiro escândalo. Comentaristas e repórteres – experts em qualquer assunto -, dissecam os seus temas favoritos com riqueza de detalhes.
            Nos três ou quatro quarteirões da Paissandu, no auge da pujança, as boites iluminadas oferecem a satisfação dos desejos masculinos que as pudicas mocinhas suscitam em jovens mancebos, nos volteios coquetes, aos pares, na Praça Pedro II, a famosa P-2. São nomes sugestivos e pomposos como: BOITE IMPERIAL, BOITE IMPERATRIZ, BOITE ESTRELA, BOITE ARAÇAGI, BOITE PARIS, BOITE FACINAÇÃO (escrito assim mesmo, sem o S), O SUJEITO (essa, até oferecendo certo luxo), e tantas outras de menor expressão ou sem nome algum, todas a oferecerem bebidas, danças e a cama para o sexo.
Em muitos desses quartos, por alguns chamados de “Aps”, mas apenas por questão de eufemismo, nem ventilador existe. Apenas no bordel “O Sujeito”, na “Boite Estrela” e em mais um que outro, encontra-se tal conforto moderno. Nenhuma dessas boates possui banheiro privativo. Vários litros com água, uma bacia e algumas toalhinhas constituem todo o equipamento para higienização dos atores do imbróglio amoroso. Isso, para pessoas mais pudicas, é até constrangedor. Após a refrega, o garanhão posta-se de pé segurando a bacia entre as pernas meio abertas, enquanto a prostituta lhe lava do pênis o líquido seminal, enxugado-o em seguida, com uma das toalhinhas. Depois, agacha-se ela própria sobre a mesma bacia, e procede a uma rápida limpeza de suas partes íntimas, tentando livrar-se um pouco dos seus próprios gêiseres e do víscido produto masculino. Não raro, um e outro urinam no recipiente, posto que o ato sexual induz a essa necessidade biológica.
Essa é a Paissandu de tantas histórias...
É o mercado da carne jovem de mocinhas piauienses, maranhenses, cearenses e de outros estados, em geral vindas de cidades do interior, apresentadas como cariocas, paulistas, gaúchas e algumas até como oriundas das estranjas. Dessas o cachê é bem mais salgado, proibitivo, portanto, à bolsa do estudante pobre ou do comerciário mal remunerado. Essas ficam nos salões, sentadas às mesas, à espera do freguês endinheirado que lhes paga uma bebida, ensaiam alguns passos de dança ao som de uma orquestra em surdina, e depois as levam para os Aps, para o serviço de cama. As mais velhas ou feias ficam nas esquinas e calçadas, em apelos sensuais, oferecendo seus préstimos e discutindo preços. Para essas existem as casas de cômodos, de aluguel bem mais barato. São free lancers.
            A sociedade, com a devida cautela, aceita essa geleia geral porque é quente; a cidade, sensual, as mulheres... Bem, existem-nas para todos os gostos e bolsos. Pois o mercado é farto em ofertas. Essa aceitação tácita do meretrício por parte da sociedade vem desde a alta Idade Média. Aliás, de muito antes. A Igreja, que já dominava a vida das pessoas em todos os aspectos temporais, passaria também a policiar-lhes a consciência, instituindo a confissão secreta e, juntamente com ela, a absolvição. E todo o clero, desde a figura menor do padre ao mais alto posto da hierarquia eclesial, passou a ser detentor dos segredos de toda a gente. Isso representava um poder de vida e morte, tanto assim que se acontecia de alguém, principalmente o homem, passar algum tempo sem se submeter às barras do confessionário, era cobrado a fazê-lo; se resistisse, sofria as ameaças da excomunhão e do fogo do inferno para a alma imortal e, pessoalmente, tornava-se passível de enfrentar sérios transtornos, inclusive o tribunal da Santa Inquisição, em tempos não tão remotos.
            Mas onde entra a aceitação tácita do meretrício por parte da sociedade?
            Santo Tomás defende o seguinte:
... com relação à natureza física, o homem deseja naturalmente os prazeres do alimento e do sexo, assim também no que respeita a sua alma deseja ele conhecer alguma coisa. Mais à frente, conclui: Se uma mulher casada se enfeita para agradar o marido, pode fazê-lo sem pecado, já que isso pode ser um meio de afastá-lo do adultério.

            Lutero, o grande proscrito da Igreja, proclamaria mais tarde:
Uma mulher dotada de uma certa graça leve e rara não pode tão pouco passar sem homem como sem comer, beber, dormir ou exercer qualquer outra função natural. Tão pouco pode o homem passar sem mulher.

            O primeiro, quebrando a rígida disciplina eclesiástica que determinava somente ser lícito o sexo para a santa finalidade da procriação, libera o homem casado a praticá-lo com a sua mulher, desde que isso o afaste do adultério. O solteiro que se lixasse, conforme Tomás. Já Lutero declara-se liberal quanto ao seu exercício, seja para o homem, seja para a mulher, embora com relação a esta, exprima terrível e flagrante preconceito contra as feias, posto que a Eva luterana tem de ser dotada de uma certa graça leve e rara.
            Onde, pois, buscar o solteiro a satisfação dessa necessidade tão natural – o sexo –, se não junto à prostituta? 
            Assim, com a implícita permissão da comunidade, essa mulherada toda – da Paissandu e de outros bordéis menosbadalados –, também nos finais de semana invade as coroas. Se não exageram nos trajes ou nas cavas dos maiôs, na pintura exagerada dos lábios, e têm comportamento discreto, chegam a passar por “moças de família”, integrando o colorido universo dos quentes veranistas. Pois, geralmente, são de boa procedência familiar, educadas e de boas maneiras, caídas na “vida fácil” em razão de um sedutor perverso que lhe levou a “honra”, e cujos pais – e não raro toda a família – as expulsam de casa para tentarem resguardar um pouco o orgulho e dignidade feridos.
            O carnaval é o fautor maior desse celeiro de carne jovem. Não era difícil se constatar, dois ou três meses após o reinado de Momo, a turma masculina, terminada a ronda na P-2, descer para a “Paissandu” em busca dessa messe de brotinhos jovens e inexperientes, sob os comentários de que “Fulana”, desceu; Sicrana caiu;  Beltrana sentou praça. Alguns, ao terminarem a transa, alardeavam, em resposta às perguntas dos curiosos (e invejosos) amigos:
            - Que tal?
            - Beleza! Um estouro! Ainda apertadinha!
- 2 -
            Aqui, onde até bem pouco a pachorrenta paz ainda a todos irmanava, em que sentar-se na calçada para o papo descontraído era costume salutar e sem nenhum perigo, até aqui já se percebem sinais de tensão. Os muros estão pichados com inscrições recentes recobrindo as mais antigas:
            - Tudo pelos camponeses maranhenses! 
            - Luta de Classes! 
            - Viva Chico Julião!
            - Viva Cuba!
            - Viva Fidel!
            - Viva Che Guevara!

            Ou, ainda, a demagogia dos candidato no leilão de votos:
             - Para Senador, homem de larga visão, vote em José Cândido Ferraz!
            - Para Deputado Federal – Honestidade e Trabalho – vote em Dyrno Pires Ferreira!
            - Para Governador...
            - Para...

            Para tanta coisa! Para tanto cargo! Para Deputado Estadual; para Vereador – até para o diabo se pediam votos. Tudo isso de mistura às disputas à presidência de grêmios e centros estudantis. Trabalho! Honestidade! Visão! Devotamento à Causa Pública! Defesa dos Interesses Maiores do Povo! Eis o vocabulário com que se escreve o poema mural da antinomia demagógica. Cada candidato – e somente ele! – é espelho de honestidade, trabalho e honradez. Somente os homens de cada partido são bons – são únicos! Esquecem-se de que aquele “Honesto e Honrado Senhor” de hoje era, no pleito anterior, um patife e ladrão. Ele estava na oposição. Pouco bastou para se depurar: mudar de partido! Como se cada partido não fosse o cadinho mágico em que se depuram e se buscam os fisiologismos, as vantagens pessoais, as benesses do cargo. Nada mais espúrio e hipócrita do que os chamados “Programas do Partido”, que políticos finórios invocam e alegam para a macaqueação das mudanças, quando, com isso, vislumbram alguma vantagem para si e/ou para o seu grupo.
            Aqui uma parte do povo já desperta para isto: a percepção do jogo e do  logro. Adquire uma nova visão do mundo lá fora. E faz a cobrança. Estão aí, nas paredes e nos velhos muros, cobrindo às vezes as legendas mais antigas:

            - Reformas de Base! 
            - Terra para os Camponeses!
            - Viva as Ligas!

            O povo aqui já se conscientiza, já se politiza. Já se sente parte do mundo. Convivem conosco os reformadores sociais. Já se tem consciência das convulsões sociais lá fora, do que se busca em benefício de todos: a divisão mais justa e equitativa dos bens que a própria sociedade produz, através do progresso e do desenvolvimento. Até aqui já se tem consciência de que se faz necessário iniciar a luta contra a política dos currais eleitorais e do coronelismo. De que é preciso arrebentar cabrestos, quebrar cangas e derrubar currais. Mister se faz que as velhas oligarquias – rurais e urbanas –, sejam substituídas com urgência. É preciso dividir a “mais valia”.
            Esse sentimento novo andava no ar. Farejava-se por toda parte esse clima de agitação, de protesto, de contestação jovem. Era o movimento hippie incipiente, com o slogan: “Faça o Amor, Não Faça a Guerra”. Detectava-se também uma insatisfação, uma espécie de negação à dominação do mundo pelo Grande Irmão do Norte, principalmente na América Latina. Era Marcuse com uma proposta nova de “Poder Jovem”. Era Mcluhan com a sua ideia de “Aldeia Global”, focada no instantâneo das comunicações. Era Theodore Roszak, com o livro A Contracultura, cuja chamada é “O Dilema da Sociedade Tecnológica”, no qual procura, com os seus ensaios filosóficos e sociológicos, analisar e entender os destinos de uma sociedade em rápido processo de mudança. Ali, ele não apenas examina as diferentes visões de mundo, como propõe uma ruptura com os velhos padrões e conceitos no campo da educação, da política, das relações sociais e da economia, como forma de reorientar toda uma juventude sem rumo e meio alienada.
            Era o “Mutante Cultural” tomando chegada de mansinho. E, junto, os alucinógenos – o LSD, a maconha... Era o estabelecimento de uma nova consciência que, neste momento, irradiava-se pelo mundo inteiro, e que estava a provocar grandes mudanças a que Toynbee denominou “Grande Curvatura Histórica”. E Teresina fazia parte desse sentimento, participava desse momento de mudanças através de alguns inflamados líderes estudantis, embora ainda se constituísse um movimento um tanto acéfalo, meio amadorístico e algo romântico. Alguns desses arautos estudavam no Rio de Janeiro, onde a contestação já ganhara caráter de luta em que se buscava implantar esse ideário entre os estudantes, o proletariado e o campesinato.
            Embora andassem no ar essas ideias, paradoxalmente só uns poucos a elas aderiam pelo fato de não terem delas uma melhor concepção ou entendimento. Enquanto alguns falavam de Cuba, de Che, de Marighela e outros grandes líderes estrangeiros, a maioria estudantil ainda permanecia na indiferença, muitos até nem se dando conta de que houvera uma revolução vitoriosa em Cuba. Isso porque o reacionarismo ainda era muito forte, pois não interessava à burguesia urbana e rural a derrubada dos currais e a quebra dos cabrestos. Não obstante essa aparente paralisia, o grito de liberdade preso na garganta estava prestes a eclodir.
            Não seria naquele domingo de agosto, naquele exato domingo. Naquela exata manhã em que libélulas e borboletas de variegadas cores beijavam a face das águas serenas do Parnaíba. Naquela manhã, ainda coexistiam, de forma harmoniosa e ordeira, a burguesia urbana e rural e a massa de estudantes não-engajados, de comerciários conformados com os meios-salários de fome que lhes pagava o patronato insensível, e de trabalhadores rurais jungidos à coleira de ferro da feudocracia ruralista, reacionários – todos, ou boa parte -, às ideias de lutas por reformas e mudanças.
            O patronato, fosse industrial, comercial ou rural, entrincheirava-se na defesa intransigente de seus “territórios”, com apoio das forças armadas, de grande parte dos parlamentares – deputados federais e senadores –, da esmagadora maioria do clero conservador e de boa parte da imprensa, cujos patrões preferiam ouvir falar no diabo que em mudanças. E a classe trabalhadora, salvo uns poucos gatos-pingados, na vacilação pequeno-burguesa, [5] que ora se posiciona a favor da burguesia, ora se compõe com o proletariado de todas as classes sociais.   
            Havia, porém, um germe plantado pelo clero, antes chamado ACO – Ação Católica Operária, depois mudado para MEB – Movimento de Educação de Base. Embora fosse esse um movimento essencialmente de evangelização, o viés político estava contido em suas diretrizes. Como fator fundamental dessas diretrizes estava a promoção humana e a libertação integral, significando isso lutar contra as barreiras e contradições sociais. A ala progressista da Igreja  assenhoreou-se dessas franquias de forma a estender suas ações às periferias das pequenas, médias e grandes cidades, executando aquilo a que se propunha o Movimento, que era fazer a “Opção Preferencial Pelos Pobres”.
            Foi assim que surgiram figuras como Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga e Dom Antônio Fragoso, precursores de uma pregação de cunho revolucionário no sentido da promoção da justiça social em que a divisão equitativa e justa da terra era matéria de primeira plana.
            Com a mesma finalidade, criaram-se associações de jovens, tais como Juventude Estudantil Católica; Juventude Operária Católica; União dos Moços Católicos; Juventude Universitária Católica, dentre outras. Apenas os MEBs, em virtude de sua capilaridade (estavam presentes praticamente em todas as paróquias) tiveram mais eficácia na divulgação de suas ações em razão do que   a adesão das massas às suas teses foi bem mais expressiva. Foram os MEBs que conseguiram despertar no povo o sentimento de injustiça, no campo e nas cidades, e de que eram vítimas da cruel exploração patronal.
* * *


2 A explicação para estas palavras de ordem pode ser buscada na revolta de Dona Noca, em 1951, quando era prefeita de São João dos Patos. Latifundiária todopoderosa, mas de tendências liberais, juntar-se-ia a movimentos eclodidos em São Luís contra a posse do governador eleito Eugênio de Barros. Embora seu levante só tenha durado um mês, foi o suficiente para inflamar as mentes do campesinato maranhense e depois, Brasil afora. (Nota do Autor)
3  À parte o conceito marxista e a concepção social da Igreja sobre Luta de Classes, referimos apenas à percepção que se fazia dela no Nordeste e principalmente no Piauí, que era a luta do campesinato contra o latifúndio.
4 Advogado Pernambucano, muito ligado à história das Ligas Camponesas. (Nota do Autor)
A idéia das Reformas de Base nasceu em 1958, no Governo Juscelino Kubitschek, mas apenas com João Goulart elas começariam a tomar forma e abrangiam os campos educacional, fiscal, político, urbano e agrário. (Nota do Autor) denominação dada à classe média pela Cartilha Comunista, que não se definia de que lado ficar. Isso também se aplicava a dirigentes do PCdoB. Quando, por exemplo, um membro do partido tomava uma posição muito dogmática, era sectário; quando se mostrava indeciso, estava cometendo uma “vacilação pequeno-burguesa. (Nota do Autor, cf. Aylton Quintiliano, in A GRANDE MURALHA, 1959)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Carnaval dos idosos de Francisco Santos




 A prefeitura municipal de Francisco Santos por meio do Centro de Referencia da Assistência Social – CRAS realizou na última terça-feira (14), um evento comemorativo ao carnaval. O evento reuniu idosos para comemorar o carnaval com muita alegria e muita dança.