Bem Vindo ao Blog de Fco. Santos - PI

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domingo, 25 de julho de 2010

Capa do Livro de Francisco Santos e um capitulo. "Congratulções ao Sr. João Bosco"


(N) O F E U D O

S A N C T O R U M

1. F R A N C I S C O S A N T O S

A Emancipação Política

QUE O HOMEM É UM ANIMAL POLÍTICO, isso já afirmava Aristóteles, filósofo grego que viveu entre 384 e 322 a.C. Não era diferente o nosso homem de Jenipapeiro, comunidade endogâmica, fundada por dois casais de baianos a partir de 1818. Como era natural, tinha de organizar-se politicamente para poder levar uma vida associativa saudável.

Acreditamos que, guardando semelhança com todas as comunidades primitivas ou principiantes, a nossa teve que se basear, pelo menos nos primeiros tempos, na necessidade de se criar um líder ou chefe, a pessoa capaz de exercer domínio e poder sobre as demais e de enfrentar eventuais ataques externos. Não obstante o surgimento desse líder ou chefe acontecer mais ou menos de maneira natural, via de regra quem irá impor-se será aquele que se destacar na comunidade, por diversos fatores, mormente o econômico, podendo-se vislumbrar aí resquício da teoria darwiniana da Seleção Natural, em que sempre vence o mais forte.

Esta noção, que se confunde com a noção primitiva de Deus, tanto ou mais se tornará arraigada se esse líder ou chefe exercer sua autoridade baseado no respeito mútuo, no livre arbítrio e na justiça, desenvolvendo suas ações com pulso firme, mas sem imposições ou autocracia. As vias da força, do autoritarismo e/ou da arbitrariedade, conforme assevera Maquiavel, poderão também engendrar líderes; esses, porém, serão sempre temidos, jamais amados e respeitados.

Assim, cremos, plasmou-se nossa comunidade: à sombra de um grande líder.

No início do século XX, já a grande família ancestral se havia partido e repartido em ramos múltiplos, embora ainda conservasse o forte traço endogâmico e endogênico e o sentimento de clã e parentela.

Em 1918 falecia em Picos o senhor Antônio Rodrigues da Silva, no exercício da Intendência, deixando como sucessor e continuador de sua obra e legados políticos o parente e conterrâneo Cel. Francisco Santos, a quem iniciara na atividade (Silva Neto, 1985, p.77).

Assim, ficava em Picos, cidade-mãe, pólo de maior fermentação sócio-econômica e política, o filho da terra, Cel. Chico Santos; e cá, o seu irmão Licínio Pereira dos Santos, figura humana de valor incomparável. Tomando a democracia no sentido mais amplo da palavra, aquele em que todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido; e a política como a ciência do governo dos povos, ele não exerceu cargos públicos e nem funções políticas. No entanto, segundo Silva Neto, foi, durante décadas, o líder natural, o conselheiro, o guia, o amigo, ouvido e respeitado por toda a população (p. 77). Palavras como casuísmo ou fisiologismo, tão atuais, não se conheciam em sua época. Seu Licínio jamais teve delas o sentimento, muito menos as pôs em prática.

Juiz de paz, conciliador, conselheiro e amigo, anfitrião de padres e demais autoridades religiosas, dono das chaves da igreja desde l9l8, encarnava muito bem a figura do patriarca, do grande líder, do chefe justo a quem todos amavam e respeitavam.

Mas a comunidade crescia. Alguns elementos "de fora" começavam a quebrar o sistema de casamentos entre membros da família ou de parentes próximos, dando feições novas aos componentes da fechada comunidade familial jenipapeirense.

Também em Picos uma nova família começava a surgir, impondo lideranças novas ou pelo menos entrando em processo de conflito, senão em franca atitude de contestação ao dominante clã dos Santos, onde o nosso Coronel Francisco de Sousa Santos era figura proeminente. Registre-se, a bem da verdade, que não apenas a esse fato do entranhamento familial, entre nós, com “ramos de fora” deveu-se a formação de novas lideranças. Elas foram surgindo por razões diversas como, p. ex., o crescimento da população, a conseqüente ampliação da parentela e dos grupamentos e, inclusive, pelo anseio natural (e muito humano) de participação do poder político, mormente quando Jenipapeiro começou a desfrutar de certa importância no cenário municipal da cidade de Picos. Tanto isso é verdade que já em 1935 o vilarejo foi elevado à condição de povoado.

Em Jenipapeiro, essa ala dissidente teria como partidários maiores os senhores Francisco Rodrigues de Sales, vulgo Chodó (a grafia com ch ele mesmo explica que é para diferençar de xodó: chamego, namoro) e Arlindo Rodrigues Lima, cuja oposição, embora débil, haveria de manter-se em firme trincheira, na defesa de seus ideais ou interesses, tanto assim que, em conluio com o então deputado estadual Helvídio Nunes de Barros, derrubariam em l956 o primeiro projeto de elevação do povoado Jenipapeiro à categoria de cidade.

Ressalva, porém, se faça quanto ao surgimento dessa tíbia oposição iniciada pelos senhores Chodó e Arlindo Lima. Ela se deu por motivos pessoais, embora, depois, tenha entrado com muita força o fator político, em vista mesmo da importância política que o povoado vinha adquirindo.

Chodó, segundo narrou-nos seu filho Deusdédite, fora fiel seguidor do Cel. Chico Santos, a ponto de, a cada eleição, convencer seus amigos e seguidores a irem, a cavalo, votar em Picos no candidato que “Seu Chico” indicasse. Certa feita, porém, em um dia qualquer dos anos 1939 ou 40, João de Zé Belchior, tido como débil mental, pôs-se na frente de sua casa (casa de Chodó), a fazer gestos obscenos para sua mulher e filhas. Não gostando daquilo, Chodó tomou-o pelo braço e foi entregá-lo na casa do pai, 50 metros adiante. Zé Belchior não gostou e foi denunciá-lo na delegacia de polícia, em Picos. O tenente Inácio, então comandante do policiamento daquela cidade, ao receber a ordem de prisão e verificar a pessoa de quem se tratava, recusou-se a cumpri-la, dizendo: Conheço Chodó, é um homem de bem; não vou cumprir este mandato, não.

Chodó, achando que teria havido endosso da família Santos no episódio, em Jenipapeiro ou em Picos, ficou desgostoso e passou, então, a divergir e fazer oposição política à família.

O caso de Arlindo foi motivado por uma questiúncula. Trata-se do fechamento de uma janela que um partidário da família Santos teria deixado aberta em um muro confrontante com um terreno seu. Arlindo, após reclamar e não ser atendido, decidiu fechar a janela por conta própria. O dono não gostou e entrou em perseguição ao vizinho, com ânimo de aplicar-lhe um corretivo, só não o fazendo porque o perseguido chegou primeiro aos seus domínios, no Alto de Zé Lima, onde morava. Essa tentativa de ajuste de contas se deu por instigação de Chico Elpídio, embora sendo ele cunhado de Arlindo. Este, que era correligionário dos Santos, sentindo nisso o dedo político dessa família, igualmente como acontecera a Chodó, ficou desgostoso e também passou a fazer oposição. (A defecção de Arlindo nos foi relatada por Simplício Morais Santos).

A queda do Estado Novo, em 1945, abalaria bastante o prestígio do Cel. Francisco de Sousa Santos em Picos Esse fato político também teve repercussões em todo o estado, tanto que nas eleições gerais de 1946 o PSD perderia o governo do estado para a UDN, que apresentara como candidato Rocha Furtado, médico dedicado, de caráter ilibado, mas sem nenhuma prática política. Talvez em razão dessa inexperiência, seu governo se tenha caracterizado por perseguições a oposicionistas, por solicitações, pressões e mesmo exigências de correligionários revanchistas, por todo o território piauiense.

Com a sua assunção ao governo, em 1947, a oposição passaria a exigir do governador a demissão de todos os funcionários demissíveis, simpatizantes do PSD, ou a transferência daqueles que tinham alguma estabilidade para lugares totalmente fora de rota, como foi o caso de dona Mariinha, transferida para Uruçuí - PI. Arbitrariedades outras também se perpetraram, inclusive no âmbito policial, como, p. ex., o empastelamento de jornais e até mesmo execuções de desafetos, por encomenda. (Vide Roda Viva, de Cláudio Pacheco). Essa oposição em Jenipapeiro começara frágil, mas em poucos anos já se fizera bastante robustecida. Aproveitando a deixa, também entraria na mesma dança, pedindo cabeças e mais cabeças de pessoas ligadas à destronada oligarquia dos Santos, em nível local e em Picos. Essas pressões eram exercidas através de Helvídio Nunes de Barros que, nesse tempo, ainda não era detentor de mandato de deputado estadual, mas se ensaiava como o grande líder em que mais tarde se tornaria. Tanto assim que se elegeu prefeito de Picos na 3ª legislatura, tomando posse em 31.01.1955. (Lavor, 2006, p. 39). Esses oposicionistas, liderados por Chodó e Arlindo Lima, chegariam a polarizar atenções e a estremecer alicerces situacionistas, ao ponto de arrebatarem, anos depois, o governo do município.

Era em um tempo em que, pelo menos para nós, a política era esse tecido de amadorismo, de amor e paixão pelo líder e pelo partido. O Cheiro das grandes e podres negociatas ficava longe, deixando a nós o romântico idealismo que separava antago­nistas, apelidados CARETAS uns, se eram da UDN; e MACACOS outros, se pessedistas.

Criança de 6 para 7 anos, ainda nos lembramos do pleito de l950, com seus alegrões, que depois se chamariam comícios e mais tarde showmícios. A mídia eletrônica, criação mais recente, é mais prática e eficaz, porquanto atinge milhões e milhões de uma só vez, sem as inconveniências das vaias, dos tomates e dos ovos podres. Antigamente, eram festas alegres, em que se distribuíam aluares e gasosas e o candidato-orador ainda podia olhar no olho de seu eleitor para pedir-lhe o voto; porque em suas promessas havia alguma intenção sincera e em sua cara, alguns laivos de vergonha. Assim o era, pelo menos o político dos povoados e vilas, aquele que mais próximo ficava de suas bases.

Assim crescia Jenipapeiro, social, econômica e politicamente. O pequeno vilarejo de l918 tornara-se povoado em l935. Na década de 1950 (3ª legislatura, 1955), produziria dois vereadores: Izac Pereira dos Santos, pelo PSD; e Francisco Rodrigues Sales, pela UDN; e na 4ª, Elizeu Pereira dos Santos, pelo PSD.

Não nos foi possível encontrar projetos específicos apresentados por Izac e Elizeu. Deste último, o trabalho maior foi o de empenhar-se com toda garra no projeto de independência político-administrativa de Jenipapeiro. Com relação a Chodó, sua bisneta Cleânia desencavou vários deles na Câmara Municipal de Picos. Especificamente sobre Jenipapeiro, Chodó conseguiu um crédito de CR$8.000 para desapropriação da residência do Sr. Firmino Carvalho. Essa casa, para quem não se lembra, ficava fora de alinhamento, avançando cerca de 5 (cinco) metros no leito da rua que vai do Mercado Público em demanda do Saquinho. Era um monstrengo enfeiando o passeio público. Foi de muita serventia o projeto de sua retirada.

Como se pode perceber, passávamos a influir, dessa forma, na vida político-administrativa da cidade de Picos. A partir daí o sonho de alçar vôo maior passaria a ocupar espíritos e mentes dos representantes do PSD, com forte oposição dos udenistas, em esmagadora minoria.

Mas esse é um capítulo cheio de tramas e traições, que se arrastaria por muitos anos, até culminar com o sonho maior de toda a gente. Queríamos, ao escrever nossas cartas, começar assim:

Francisco Santos-PI, tanto de tanto etc...

* * *

FRANCISCO SANTOS-PI., 24 de Dezembro de 1960!

D a t a h i s t ó r i c a !

Não se chamou GERALHO, como queria Mundico de Boronga (o segundo mais famoso autodidata da terra, professor emérito; que o primeiro era o mestre Miguel Guarani, sem sombra de dúvida). GERALHO, substantivo novo, de sua invenção, para significar: Terra do alho, que gera alho. GERAR + ALHO. Muito apropriado. Mas não o quiseram os grandes do lugar. Aliás, nem o levaram em consideração.

- Mas, Geralho? O que é Geralho? - pergunta o chefão.

- Geralho é uma palavra nova, que quer dizer: Terra do alho, que gera alho.

- Mas por quê? - ele insiste.

- Para traduzir algo nosso, aquilo que é símbolo da terra, do nosso trabalho - responde Mundico.

- Francisco Santos é bem mais nosso. É o nome do benfeitor desta terra, daquele que muito fez por nossa gente - contrapõe um outro liderado.

- Por que não se deixa então JENIPAPEIRO? - insiste o professor.

- O nome é Francisco Santos mesmo - ecoam em uníssono todos os notáveis e puxa-sacos penetras.1 É uma justa homenagem a quem tanto fez por este povo.

O Sr. Francisco de Sousa Santos, carinhosamente chamado “Seu Chico” ou “Chico Fartura” pelos mais chegados, e de Coronel Chico Santos por todos de modo geral, foi inegavelmente um benfeitor, o parente e amigo que jamais faltou ao conterrâneo que lhe batesse às portas. Se pedia rancho, lá estava o grande telheiro para armar a rede, a bóia na mesa, a quinta para os animais; se precisava de um papel, um documento qualquer, ele se prontificava a arranjar; se carecia de um médico, havia o Dr. Moura, seu filho, a dar atendimento digno e desinteressado. O Dr. Moura atendia a todos os chama­dos. Se houvesse dinheiro, recebia; se não, recebia uma galinha, um agrado qualquer. Se não havia nada, o "muito obrigado" era paga suficiente.

- Então - conclui Elizeu, líder político e irmão do homenageado, o homem que conduziu todo o processo, sem descanso e esmorecimento - então, como eu dizia, todos estão de acordo? A cidade vai se chamar FRANCISCO SANTOS?

FRANCISCO SANTOS!

Explodem as palmas.

E o autodidata, diretor da Escola Reunida Franco Rodrigues, calou-se, vencido. O filho de Boronga e de Carmina, desgostoso, e achando que não teria mais vez na futura cidade, sua terra-berço, mudou-se para São Paulo, e hoje, segundo esparsas notícias, vive muito bem em uma cidade do interior paulista.

* * *

FRANCISCO SANTOS - PI., 24 de dezembro de 1960!

Essa é a data oficial de instalação da cidade de Francisco Santos, antigo povoado de Jenipapeiro, desmembrado do município de Picos.

A festa para receber o Governador e sua comitiva fora preparada com esmero. Ruas enfeitadas de bandeirolas, desde o largo da igreja até o final da Rua do Tetéu, na entrada da cidade, banda de música contratada em Picos para a recepção, e baile logo mais à noite, além de lauto banquete para as autoridades.

Já de longa data preparara-se a população para o grande dia, mandando recompor a pintura das casas (à exceção de uns poucos adversários mais ferrenhos), renovando o guarda-roupa, tomando outras providências, de forma que nada pudesse sair errado. Afinal, era um acontecimento único e inédito e todos desejavam apresentar-se da melhor maneira possível.

Por volta das l5:00h daquele sábado quente, uma comissão de notáveis se deslocou até a BR-3l6 para esperar Sua Excelência, o Governador, com a sua comitiva de ilustres Deputa­dos e Secretários de Estado, cujas presenças haviam sido confirmadas.

E haja o povão a esperar. Caras para o sol, suor e sede, era preciso muita conversa para dissimular a impaciência e a ansiedade. O tempo passando; dá l6 horas, dá l7. São rasgadas as primeiras bandeirolas, há ameaça de invasão da rua e de rompimento do cordão de isolamento.

De repente, um sinal: estouram os foguetes, lá pela altura das Três Baixinhas.

“Até que enfim!” - murmura a turba, irrequieta.

Aproxima-se a caravana. A multidão se move. Espicham-se os pescoços. Encompridam-se os olhares.

“Cadê o carro oficial?” - pergunta alguém.

Corre um murmúrio, um boato. Depois a informação é confirmada. Gestos de incredulidade, a decepção estampada em cada rosto.

O governador Chagas Rodrigues não viera.

Uf! Derrubam-se num instante os cordões que contêm a alegria do povo.

O Dr. Caio Vaz de Oliveira, Juiz de Direito da Comarca de Picos, representando o Governador, recebe as chaves da cidade e corta a fita simbólica.

Estava assinado o termo de nossa maioridade político-administrativa. (Ver fotocópia da Ata de instalação da cidade na parte ANEXOS, no final do livro).

O que era um banquete virou festa chinfrim. De qualquer forma, com ou sem a presença do governador, realizara-se o nosso sonho maior.

O Dr. Chagas Rodrigues, mui digno governador do Estado - disseram alguns adversários, felizes da vida - não iria tomar de seus cuidados para, numa data desta, véspera de natal, vir a uma festa em Jenipapeiro. (Durante algum tempo, por despeito e inveja, alguns udenistas continuariam a chamar de Jenipapeiro a terra que agora legalmente se chamava Francisco Santos).

O Jacaré Engomado (assim era apelidado o Governador) está "consuelando" no Rio de Janeiro - comentou, maliciosamente, um outro adversário, muito bem informado acerca das supostas escapadelas amorosas de nosso governante.

Consuelo, segundo murmuravam seus inimigos na capital, era uma bela loira dos trópicos, por quem o governador se enrabichara no Rio. Assim, criou-se o verbo “consuelar”, e com ele os opositores passaram a alfinetá-lo pelas rádios e jornais escritos, com ou sem razão, sempre que ocorria ausentar-se de Teresina.

Talvez tivessem razão; mais provavelmente, só despeito.

Agora era verdade: Jenipapeiro virava cidade, realizando-se o frustrado sonho de 1956, quando passara nosso vizinho Riachão, atual Monsenhor Hipólito, e ficáramos nós "a ver navios".

Naquela oportunidade, os adversários udenistas, então em desvantagem, urdiram bem a trama. Comprometiam-se a dar o necessário apoio, desde que o "Projeto Riachão" entrasse em pauta. Acordo acertado, através de bem ordenada manobra, esse projeto foi à votação em primeiro lugar. Na hora da votação do "Projeto Jenipapeiro", o deputado udenista da região, Dr. Helvídio, juntamente com outros colegas de partido, retiraram-se do plenário, impondo, traiçoeira e espetacularmente, fragorosa derrota aos seus adversários políticos.

Quatro anos depois, o povoado era elevado à categoria de CIDADE, já agora sob o comando político do experiente Elizeu Pereira, que substituíra seu irmão Izac na vaga de vereador, em Picos. Agora, aliados na cena política, contáramos com alguns outros negociadores, como os deputados Humberto Reis e Álvaro Rodrigues, da região, e principalmente Clóvis Mello e Manoel Nogueira Filho, respectivamente, de Batalha e Pedro II.

Relata-nos Simplício Morais Santos que nos anos de 1945/6, Elizeu saiu tocando uma boiada de mais de 100 bois, para vender Piauí afora. Os dois últimos lotes foram vendidos a esses dois senhores acima referidos. Ambos deputados na legislatura de 1957, não foi difícil para o nosso intrépido vereador contatá-los e pedir-lhes o voto a favor do seu “Projeto Jenipapeiro”. Em nome da antiga amizade, nenhum deles ofereceu qualquer resistência e ainda fizeram campanha por votos de seus pares, na hora da votação.

Chegáramos, enfim, à vitória; com relativo atraso, mas chegáramos!

* * *

2 4 . 1 2 . 1 9 6 0 !

A partir dessa data os poderes constituídos do Estado conferiam-nos a maioridade política, o antigo povoado tomando o nome do filho ilustre, homenagem a seu benfeitor, Cel. Chico Santos, que, segundo voz corrente, a nenhum jenipapeirense faltou com a ajuda.

A partir dessa data a cidade ganhava seu primeiro prefeito, Roldão dos Santos Rodrigues, nomeado por Ato do governador Chagas Rodrigues, atendendo indicação de Elizeu Pereira dos Santos. “Macaco velho” nas artes e manhas da política local, Elizeu não apenas conseguira homenagear o irmão, Cel. Francisco de Sousa Santos, dando seu à cidade; como conseguiu também emplacar o primeiro prefeito como forma de agradar Licínio Pereira, irmão mais velho da irmandade dos Pereira dos Santos, ao indicar um genro para tão elevada função.

A partir dessa data, por força de sua autonomia política, começavam a bafejar os primeiros cargos públicos municipais, outros estaduais e federais advindo posteriormente.

A partir dessa data começava, então, o jogo sujo das negociatas e dos interesses pelos empregos e colocações, trunfos que serviriam de objeto de barganha pela manutenção do poder, meta maior de qualquer político ou partido.

O grande fato histórico foi condignamente comemorado. A população, de modo geral, recebeu com alegria seu novo status. Vitória dos petebistas, que esperavam continuar no poder por alguns anos; desespero da oposição, que, como da outra vez, lutou até a última hora contra a aprovação do projeto. Aprová-lo naquele momento significaria ficar de fora do comando das ações, o que seria um golpe mortal para a UDN local, combalida em suas forças políticas em razão de nossa emancipação político-administrativa. Esse senti­mento de derrota era tão forte que o seu deputado picoense recebeu o apelido de consolator aflitorum, e assim era apupado ao passar nas ruas da cidade. O povo, tomando de empréstimo o latim do exortativo hino eclesiástico, dizia que Helvídio vinha consolar da derrota seus aflitos correligionários.

Não havendo outro jeito, o remédio era aceitar o fato consumado. Contando com a simpatia do padre João Morais, os udenistas conseguiriam, um pouco depois, impor uma pequena derrota, mais pessoal do que política, ao sistema então dominante. Tornar-se-iam os anfitriões do padre em suas desobrigas, arrebatando as chaves da igreja, das quais era guardião o senhor Licínio Pereira, desde sua fundação em l9l8, passando-as ao adversário João Franco. Seu Licínio acusou um pouco o golpe, mas nem tanto. Já bastante idoso, a incumbência começava a lhe pesar sobre os ombros. Em vez de mal, fizeram-lhe um bem.

O novel prefeito, envaidecido com a honraria, e a toda hora quebrando "a liturgia do cargo", parecia e aparecia em estado de graça. Irradiava felicidade e alegria na distribuição de sorrisos e abraços. Recebia de toda parte calorosos cumprimentos. Até sisudos senhores vieram prestar-lhe vassalagem.

A primeira-dama do município recebia a fina-flor da sociedade, abrindo as portas à bisbilhotice provinciana. Todas queriam ver o fofo colchão de mola - o primeiro da cidade. O conjunto de estofado tornou-se experimento de todos. A fórmica dos móveis causava espécie. O guarda-roupa também. E o que dizer dos vestidos? Sedas e linhos, modelos de famosas costureiras da capital. Para a posse e festas de inauguração, todo o enxoval fora confeccionado na grande metrópole Teresina.

As filhas do casal de mandatários foram assediadas e cortejadas como nunca. A juventude galante fez-lhes roda e festa na calçada.

Foi esse um primeiro momento.

Até a mudança dos moradores para as serras sofreu atraso. O que em geral se dava entre 1º e 15 de janeiro, naquele inverno de 1961 só veio a acontecer em meados de fevereiro, com grandes prejuízos no trato das lavouras. Todos queriam desfrutar daquele momento de euforia e confraternização.

Verdadeira metamorfose operou-se na mentalidade do povo. E com que rapidez! Revolução nos costumes, na vida social, econômica e religiosa, com sérios transtornos para uma economia de subsistência como a nossa. Essas repercussões foram tão graves que os seus reflexos negativos se fizeram sentir durante muitos anos. Até o fervor religioso de nossa gente sofreu os maléficos efeitos da mudança. A introdução dos hábitos urbanos, e principalmente esta consciência nova de cidadania, subverteu completamente a velha ordem estabelecida e arraigada.

Sobreveio verdadeira febre de imitação.

Já não éramos provincianos. Agora éramos CIDADE, igualados a nossa mãe-Picos. Não tínhamos porque ficar eclipsados em nossa antiga posição de vassalos, obedientes a ordens superiores de mandatários derrubados. De humildes áulicos picoenses, passamos a compenetrados senhores FRANCISCO-SANTENSES! Com muito e justo orgulho. Tínhamos em nossas mãos as nossas próprias rédeas e construiríamos o nosso destino à nossa maneira. Dispensávamos a tutela para assumirmos, nós mesmos, a direção, abrindo nosso próprio caminho. Exigíamos tratamento igualitário.

Sentimento do primeiro instante, era preciso gozar, viver esse grito de liberdade e auto-afirmação. Esse deslumbra­mento estampava-se em cada rosto, seguindo nosso prefeito, que se desmanchava em sorrisos. Era como se houvesse um sentimento de posse muito forte, uma grande urgência de vivê-lo plenamente. Íntima comunhão entre o possuidor e a coisa possuída, era como se quiséssemos gritar para o mundo: FRANCISCO SANTOS - ÉS NOSSA!

O sentimento do povo era de plena euforia.

De saída, o aspecto diversão/lazer tomou novos rumos, dando continuidade às festas de celebração. O divertimento da juventude, antes constituído de ingênuos namoros e pequenos flertes no adro da igreja, ganhava outra dimensão. Foi introduzida a dança, com bailes e festas-relâmpago a qualquer hora do dia ou da noite, principalmente nos finais de semana. Violão, surdo e pandeiro formavam a orquestra improvisada ao som da qual se dançava alegremente. Os Broxelas, apelido de membros da tradicional família de Zé Belchior, forneciam os competentes músicos desse incipiente conjunto, mania que se alastraria pelas décadas seguintes. A sofisticação dos instrumentos, metalizados depois em guitarras elétricas e tonitroantes baterias, parafernália de caixas acústicas e fios, psicodelismo de ritmos e sons, terminaria por mudar completamente a feição dos antigos saraus nostálgicos, onde valsas e boleros eram a tônica predominante, quando, de raro em raro, entre nós aconteciam.

Ao som de sacudidos frevos e marchas e de rebolados sambas, aproveitava-se o embalo para o abraço mais apertado na namorada ou na garota de nossos sonhos platônicos, naquelas festinhas improvisadas em qualquer salão, no pátio de recreio do Grupo Escolar Franco Rodrigues, ou mesmo na casa de Rosa de Pereirinha. Essa mudança veio substituir o gostoso romantismo, em que os avanços máximos na intimidade entre namorados não passavam do pega-na-mão ou do rápido e roubado beijo na face cândida da amada. Que bom que era depois disso o sussurrado pedido de desculpa para amortecer a fingida raiva. Levava-se a noite inteira, e às vezes semanas, entre as mais contidas, para que a paz se restabelecesse e então, novamente, outro beijo roubado e a fúria aplacada com macias palavras...

Isso agora estava mudando rapidamente. Os forrós estavam propiciando oportunidades de ouro para o abraço mais aconchegado, em que se descobriam contornos e saliências corporais, a "mão mais atrevida" procurando, enquanto a moça, embora negaceando, ia permitindo e até mesmo incentivando aquela inocente exploração. Assim, daí para conquistas mais ousadas foi um pulo. Poucos anos depois aquela faceta de ingenuidade e candidez era coisa do passado. Era preciso imitar a cidade grande, não lhe ficar atrás em nada. Se possível, até desbancá-la.

Não precisou muito para que pais de família, mesmo nas mais tradicionais, viessem a ser surpreendidos com a chocante notícia de uma gravidez inesperada de uma filha, o casamento às pressas abafando o escândalo. Alguns, inclusive, tiveram de amargar o dissabor e o peso da vergonha, porque o culpado não assumiu a paternidade, escafedendo-se para São Paulo, Brasília ou outro lugar ignorado.

Nossa juventude entrava assim de cara, de ponta-cabeça, na era da modernidade, subvertendo valores, derrubando tabus, ingressando nessa onda centrífuga de permissividade que, a bem da verdade, chegava com algum atraso. Os Beatles, o “faça ou amor, não faça a guerra”, os contraceptivos, LSD, o Homem chegando à Lua, Mac-Lohan com a sua idéia de “Aldeia Global”, e outros propagandistas da contracultura – tudo isso foram ecos que chagavam até nós através das ondas curtas e médias do rádio, e influenciou enormemente a nossa juventude.

A partir daí o povo de Francisco Santos se tornava festeiro, mais alegre...

* * *

A SEGUNDA E QUASE simultânea conseqüência, mais grave ainda, do grande fato histórico foi o êxodo rural para a cidade. Aqui não motivado, pelo menos de maneira explícita, por uma perspectiva real de melhoria de vida ou apenas para fugir da aridez do campo, mas, acima de tudo, para viver uma vida mais associativa, sentir na cidade aquela pulsação e entusiasmo que a todos dominava e irmanava. Aqui valia mais o anseio de participação subjacente em cada um, como se fora isso uma forma de compensação pelos anos de atraso e subserviência. Era o começo do afloramento de uma consciência política, embora inconsistente e tíbia, o homem saindo da caverna e descobrindo, maravilhado, o esplendor do meio-dia, a estesia da vida e do mundo.

Era esse o sentimento do povo, que nós traduzimos em prosa e verso.

De repente, viu-se o arrabalde despovoado, as casas abandonadas, as pequenas tarefas diárias postergadas para o dia seguinte, o afazer de hoje deixado para o incerto amanhã. As palestras no comércio em derredor do mercado eram por demais importantes e agradáveis. Às duas ou três da tarde, como antiga­mente, já não era o caminho da roça que o homem tomava para as pequenas tarefas, como a raspagem do paul ou a destoca de uma roça.

Não, a bisbilhotice nas calçadas não podia ser perdida. A novidade, o inusitado, o comentário político, a notícia trazida de Picos no Jeep das 4, o ontem, o hoje, o agora - nosso futuro! - tudo discutido e esmiuçado nesses informais encontros. (Criaram-se muitos comentaristas, alguns amadores, outros verdadeiros experts no assunto). Havia aqueles que se especializaram nas notícias nacionais e estrangeiras. É que a era do rádio também nos atingia justamente agora, coincidentemente com a elevação do nosso acanhado povoado à categoria de cidade, a mais promissora do vale do Riachão, segundo nosso orgulho bairrista. Eram poucos os aparelhos ainda e por isso seus felizardos proprietários tinham a exclusividade das notícias quentinhas, e com elas faziam muito sucesso.

A discussão em torno do emprego da primeira cota foi tema para muitos meses. Discutiam-se as prioridades, as obras mais importantes a serem feitas, surgindo em primeiro lugar, disparada, a compra e instalação imediata de um conjunto gerador a diesel para a luz elétrica. Monsenhor Hipólito, nosso vizinho e antagônico (aquele samba acabado, diziam alguns despeitados), há três anos festejava a sua luz, a qual lançava na noite estival o seu clarão alaranjado, deixando-nos invejosos a contemplá-la da penumbra que seu facho mágico espalhava até nós, de uma distância de quatro léguas.

“Não tem o que discutir” - dizia uma opinião abalizada; ao que todos concordavam, em coro: “A luz elética em premero lugar”.

Era voz geral. Não tinha o que discutir. A luz elétrica em primeiro lugar. Depois é que viriam as estradas, os açudes, as aguadas. E então outro tipo de discussão surgia: quem seria o beneficiário, ou beneficiários, dessas primeiras obras?

Uns achavam que, por justiça, deveria ser o chefe Elizeu a ter a primazia de receber em suas terras tais e quais melhoramentos. Uma estrada para o Belo Monte seria o ideal, pois beneficiaria também a Santa Helena e toda a Areia Branca, com seus inúmeros moradores, aí incluído o Sr. Prefeito. Mas aí alguém lembrou que, saindo um pouco mais acima, já havia a vicinal ligando a cidade à Central (BR-316) e que dali para aqueles sítios era um pulo.

“Um desperdício” - retrucavam aqueles que queriam a estrada para as serras do outro lado, isto é, para a margem direita do rio, menos desenvolvida e, portanto, mais carente.

Alguns chegaram, inclusive, a sonhar com a construção de uma ponte sobre o Riachão, tão necessária para o escoamento da produção daqueles que viviam do outro lado da cidade. O sonho morreu de inanição porque os principais manda-chuvas do lugar, morando aquém do rio, não careciam de ponte. Ficavam, pois, os do lado oposto, desimportantes, ainda desconhecendo o poder de fogo que detinham através de uma arma poderosíssima chamada: Voto!

Não houve inauguração da luz elétrica, tampouco abertura de estradas sob Roldão, tal só ocorrendo na administração seguinte, com Simplício Morais.

E assim, naqueles dias felizes, passava-se o tempo, as tardes virando noite, e as noites, madrugada. Que tudo aquilo a todos interessava. Éramos enfim - ricos e pobres - parceiros e partícipes naquela grande construção.

O cafezinho das 3:00h da tarde com o Sr. Prefeito tornava-se um hábito. A princípio, privilégio de alguns, daí a pouco todos passaram a ter o mesmo tratamento, recebidos com palmadinhas nas costas, cochichos ao pé do ouvido. O prefeito era popular, e popularesco. Passar na farmácia para o dedo de prosa e o cafezinho conferia cartaz, prestígio político; e isto significava "estar por dentro". E todos aspiravam àquela distinção.

O que, porém, nem todos sabiam era que nem todo o poder ali repousava. Grande fatia dele estava 50 metros adiante, na casa do chefe Elizeu, artífice inconteste da construção da nossa pólis.

O prefeito, dir-se-ia, era a pantomima, o palco. Embora o artista tivesse fama, a força do espetáculo provinha dos bastidores, onde eram manobrados os cordéis.

Macaco velho, ele, o chefe, sabia que teria de podar, de aparar aquelas asas antes que se emplumassem. Porque, se tal acontecesse, o vôo poderia ser bem alto. Por isso começava, já ali, o sutil jogo de esgrima em que cada um, procurando superar o outro, ia tramando seus golpes para tentar atingir a couraça do adversário. Era já notória, em reuniões de tomada de decisões, a atitude do chefe Elizeu em pedir um tempo para pensar. O resultado disso era que muitas das decisões eram sus­surradas ao ouvido do interessado num "casual" encontro de rua ou numa conversa reservada em casa de uma terceira pessoa, mediadora e "desinteressada", frustrando muitas vezes as expectativas do grupo do prefeito.

De saída, tão logo se armou o organograma administrativo da prefeitura, criou-se o cargo de Consultor Jurídico, para o qual, por consenso dos notáveis, foi indicado o chefe Elizeu. Era um cargo importante visto que todos os assuntos tinham de ter o seu "Aprovo", nada se resolvendo sem o seu consentimento. Apesar de jamais ter ele aberto um livro de Direito, justificava-se a escolha sob a alegação de que ele entendia melhor de leis que qualquer recém-formado em advocacia. Atualmente isso pode parecer absurdo, mas na época era natural. Na capital e principalmente no interior havia os chamados rábulas, provisionados que atuavam na advocacia, mesmo sem possuir o título profissional. Nós mesmos chegamos a conhecer alguns muito bons, que nunca perdiam uma causa.

O prefeito, altamente vaidoso, mas nada bobo, já vinha sentindo e farejando tais manobras. Ele tinha a popularidade, tinha o "seu povo". E esperava ter, brevemente, as reais chaves do cofre, o que seria um trunfo por demais valioso, visto que se aproximava a data de recebimento da tão esperada, comentada e discutida Primeira Cota do Fundo de Participação dos Municípios.

E foi então que ocorreu o primeiro estremecimento mais sério e declarado entre as duas autoridades. Elizeu, como principal líder e Consultor Jurídico, exigia detalhamento da aplicação de tais recursos, enquanto Roldão, como prefeito, julgava-se no direito de decidir de forma monocrática, posto que tinha idéias próprias quanto a esse ponto. Nessa luta de gato e rato, decidiram vir os dois à capital, para o recebimento da bendita cota. Durante a viagem, rediscutiriam melhor o assunto e haveriam de encontrar um meio-termo, a solução ideal para a querela.

O Sr. Prefeito, um pouco chegado à magia dos auto-falantes e à publicidade, até "concedeu" entrevista (leia-se: procurou dar) ao então famoso radialista Al-Lebre, no Jornal Q-3, da Rádio Difusora de Teresina. O repórter, após indagar um pouco da história da cidade, inclusive da pessoa do homenageado, perguntou a quanto chegava o montante da cota e como seria aplicada. Ouvidas as respostas, disparou no ar:

Alô, alô, seu Roldão, põe um pouco desta grana no meu macacão. Alô, alô, povo de Francisco Santos, o senhor prefeito encheu o seu matulão. Cuidado para que ele não fuja com esse dinheirão!

Aquilo, para o povão, foi inequívoco sinal de prestígio do senhor prefeito. E com isso seu grupo se regozijou durante algum tempo.

Assim, se o prefeito não pôde aplicar ou gastar tais recursos a seu talante, fazendo disso uma poderosa arma na abertura de seu caminho político; por seu turno, o velho chefe, se não pôde dispor de um só real para aplicação direta, ficou, porém, com o poder de influir na escolha e localização das obras a serem realizadas. Infelizmente, tais obras não puderam ser tocadas porque a administração precisava organizar-se, uma vez que estava começando do "zero". Despesas com pessoal, apesar do quadro ainda enxuto, sempre pesavam. Por outro lado, máquinas e equipamentos de escritório, além de custarem dinheiro, não rendiam muitos votos. Daí que as coisas se acalmaram entre os dois.

E toda essa agitada discussão em torno do emprego da bendita PRIMEIRA COTA resultou inútil, se desfez na leveza do nada, uma vez que o quase-nada que receberam foi suficiente apenas para sanar necessidades mais que urgentes.

O povo continuaria esperando...

Esses casos de divergências não eram do conhecimento de todos, mas muita gente já desconfiava de algum azedume no relacionamento entre os dois líderes. Por seu turno, os adversários políticos, olhos abertos e ouvidos atentos, no aguardo dos acontecimentos, assistiam de camarote à luta intestina na cúpula dos ex-pessedistas, travestidos agora de petebistas, por interesses de uma espúria coligação estadual de dois partidos sem nenhuma afinidade ideológica, como era o caso do PTB e da UDN.

Foi, então, que um fato de envergadura na política do Estado ensejou a troca de poder na recém-instalada Prefeitura. Na re-arrumação de coligações para o pleito de 1962, a frágil união UDN/PTB em nível estadual rompia-se como um balão, e no embate de forças perdeu o governador Chagas Rodrigues, que teve de renunciar ao governo para se candidatar ao cargo de senador e a uma cadeira na Câmara Federal. (Naquele tempo isso era permitido). Em seu lugar assumiu Tibério Nunes, vice-governador (03.07.1962), udenista de primeira linha, que não hesitou em exonerar o nosso bem-amado prefeito, em setembro/62, nomeando o Sr. Sebastião Nobre Guimarães, partidário da UDN, indicação de Helvídio Nunes, para completar o mandato tampão até a realização do primeiro pleito, em 1962, com assunção dos eleitos prevista para 31.01.1963.

O ex-prefeito, asas cortadas, caiu em queda livre. Ainda esbravejou querendo vir a Teresina reclamar, entrar na justiça etc. Era ato lícito do governador fazer o que fez. E Roldão se acalmou. Esperaria uma próxima oportunidade.

Nem toda sua propalada popularidade conseguiu mantê-lo à tona dos futuros acontecimentos na política local. O candidato a prefeito, do partido de Elizeu, nas primeiras eleições do município, em 1962, foi Simplício Morais Santos, um de seus filhos.

Não queria nada pra mim ou pra minha família; esta indicação só foi aceita por muita insistência dos amigos e correligionários - dizia Elizeu, como a justificar-se.

E aqui justiça seja feita: Elizeu, que tanto batalhou pela emancipação política de Jenipapeiro, gastando tempo, dinheiro, suor e muita conversa com deputados e outras autoridades, de nada ou quase nada usufruiu, dentro daquilo que hoje se denomina fisiologismo, esse verdadeiro cancro que se instalou em nosso país e que corrói a credibilidade da classe política em nossos dias.

O velho prefeito, por seu turno, sempre sorridente e bonachão, ainda tentaria soerguer-se do tombo sofrido; os bons ventos da política, entretanto, não soprariam mais para ele, pessoalmente. Para seus filhos, sim. Elizeu não lhe deu vez na primeira campanha de 1962, tampouco na seguinte, 1966, nas quais concorreram pelo seu partido, e foram eleitos, respectivamente Simplício Morais Santos e José Hosternes de Barros. Roldão morreria poucos anos depois, rompido com Elizeu, pois se julgava injustiçado, mas sempre sonhando um dia retornar ao Paço Municipal, para realizar as obras com que tanto sonhara.

Farmacêutico de muita sorte, jamais matou alguém com suas laicas receitas. Um bom homem. Um bom prefeito...? Não teve tempo nem condições financeiras de demonstrá-lo.




1. Acho que puxa-saco é o bajulador gratuito e interesseiro. O reconhecimento é uma virtude de que só os caracteres nobres são capazes. Quem viveu esse tempo, sabe quanto nossa gente é devedora a seu “Chico” (Observação do Prof. Mariano da Silva Neto)


15 comentários:

  1. Iniciei meu domingo tomando ciência de muitos fatos novos, inéditos e interessantes sobre o capítulo da emancipação política de Francisco Santos. Boa parte da obra deverá ser polêmica. Não creio que sua população vá criar nenhum óbice quanto à venda do livro. Já encomendei três exemplares que certamente serão muito úteis. É a história de um povo (minha geração) e de uma cidade (meu torrão natal). Críticas? Certamente virão! O que importa é a verdade ser dita, com justiça e imparcialidade. Não podemos esquecer a origem, o passado e o presente de um povo tão lutador e independente. Parabéns João Bosco pela coragem, despreendimento e vontade de deixar escrito um documento tão importante para a formação do povo francisco-santense.
    Cordialmente, João Erismá de Moura - Brasília-DF

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  2. Caro João Bosco: Pelo capítulo que acabo de ler, no blog de FcoSantos, acredito que seu livro será um sucesso, gostando-se ou não do título. Eu gostei. Parabens!
    Abracos, Zezé de Zé Carmo

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  3. Muito obrigado aos dois amigos, um ainda pessoalmente "desconhecido", e o outro há muito sem comunicação entre nós. Que este espaço sirva de elo para reatarmos nossos antiogos e gostosos "papos". Zezé, conforme me informou Erismá, é culto, inelectual e também um dos "pássaros saudosos" que sempre busca o ninho antigo, a nossa querida terrinha. Aliás, já naquele tempo - 1959/61 - ele já dava mostras de possuir boa bagagem cultural.
    Abraços, João Bosco.

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  4. Bosco, Parabéns, mais uma vez, pela ousada, rica e significativa produção do livro "Jenipapeiro: a terra dos espritados". Conheço-o em parte, li alguns dos seus capítulos ainda quando em fase de produção,além de ser uma privilegiada partícipe da obra, pois tive a honra de, a seu convite, escrever um dos seus capítulos. O que muito me orgulha.
    No livro, você descreve histórica e poeticamente a cidade de Francisco Santos, os fatos políticos que ali aconteceram e o espírito lutador, sagaz e esperto do seu povo, (daí o termo “espritado”), destacando algumas pessoas ilustres. É, sem dúvida, de uma importância inigualável para a cidade de Francisco Santos e para o seu povo (filhos e descendentes) e todos aqueles que, de uma forma ou de outra, fazem parte da sua história
    Quanto à polêmica que ele está gerando, confesso que julgo como positiva. O livro já tem grande notoriedade antes de ser lançado! Poucos escritores conseguem isso. Já imaginou se as atitudes em relação a ele fossem de indiferença, de falta de apreciação e comentários, como acontecem com algumas obras produzidas? Somente uma obra tão rica de sentidos e de incursão histórica, como essa, consegue evocar tantos sentimentos e posturas apenas com a divulgação do seu título. Parabéns por isso, também, Bosco. Indiscutivelmente, você é um escritor admirável, além de um grande historiador.
    Quanto ao possível boicote, fique tranqüilo. As críticas que estão surgindo nesse sentido são frutos de preconceito, de um desconhecimento da obra ou, no máximo, de um conhecimento que se limita a uma interpretação unívoca ou equivocada do título. Elas com certeza desaparecerão ou serão amenizadas à medida que as pessoas forem tendo um conhecimento melhor da obra e conseguindo perceber a grandeza que o termo “espritado” emana no seu livro e a veracidade e a beleza com que você historiciza Francisco Santos.
    Abraços
    Cleania de Sales Silva

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  5. São comentários como este seu Cleânia, que me animam a continuar. Tenho recebido manifestações de apreço e apoio através de e-mails e pessoalmente. Inclusive Erismá, que a princípio andou discordando, hoje, após conhecer alguns trechos do livro, está "maneirando" em sua posição, sem deixar contudo de dizer que o livro continuará a causar polêmica. E isso é muito bom como você mesmo observa. Como ja dizia Nelson Rodrigues, não sei se com razão, "toda unanimidade é burra".
    Obrigado, João Bosco.

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  6. Bom dia!!
    Caro Joao Bosco,
    Li o capitulo postado, creio que estamos diante de uma valorosa reliquia. Mesmo jovem(31 anos) e a despeito de ser academico de letras , sou um apaixonado pela historia, sobretudo a de nossa querida terra. Cabe-me nesse momento oportuno apresentar-me melhor : sou filho de José Crispim de Moura. Acho cabivel tambem relatar um pouco do que conheco sobre voce e sua familia. Embora nao o conheça pessoalmente ouvi, atraves de meu pai falar muito, de voce, Prof. Mariano(que lembro-me de fazer esporádicas visitas a nossa casa), seu pai, enfim, sua familia. Quando crianca e ainda na minha alfabetizacao(no colegio Joao Mariano) ja indagava meu pai sobre quem era? Por que o colegio levava aquele nome? ele, pacientemente me explicava(o chamava de "padrim lôra" )tendo por varias vezes, por conta da minha curiosidade, me levado a visitar os torroes das casas de Joao Mariano e Belarmino(este ultimo meu bisavô)que ficavam proximas. Portanto, prezado escritor, que voce, Erisma, Cleania, Chico Miguel, Zezé de Carmo, enfim todos aqueles passaros "saudosos" ou nao, portadores de amplos conhecimentos, possam estar contribuindo com o nosso enriquecimento cultural.
    Abraços,
    Osni Moura

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  7. Prezado Osni,
    Você não imagina a emoção que o seu comentário me causou. Você conheceu a Unidade Escolar João Mariano, indagou de seu pai quem era ele, visitou os torrões de nossa velha casa... "Vejo meu pai na sala caminhando/da luz da tarde aos pálidos clarões/de minha mãe escuto as orações/da alcova aonde ajoelhei rezando". (José Bonifácio). Claro que seu incentivo e palavras animadoras sobre o livro muito me envaidecem; mas a outra parte me comove muito mais. Muito grato.
    João Bosco

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  8. Olá João Bosco,li o primeiro capitulo do seu livro,e confesso que fiquei muito emocionada por conheçer um pouco sobre a historia de emancipação politica de nossa terra.Estou curiosa para ler os outros capitulos que virão a seguir,pois com certeza a historia da nossa querida terra é muito interessante.
    Sobre o titulo do livro já tinha ouvido falar a respeito, em primeiro momento confesso que fiquei pensativa quanto ao nome "espritados" , mais após a leitura deste capítulo , percebi que essa palavra nos remete a um povo de espírito forte.
    Queria destacar também a importância desta obra para nós do Ponto de Cultura Artes da Terra, pois teremos uma fonte que nos ajudará a resgatar a cultura e história do nosso município.
    Ana Carlete da Silva Sousa
    Ponto de Cultura "Artes da Terra"

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  9. Bom dia, Ana Carlete,
    Causou-me supresa a existência do Ponto de Cultura Artes da Terra. Gostaria de obter alguns dados sobre esta instituição, acredito muito valiosa. As indagações que gostaria de ver respondidas seriam as seguintes:
    1. Qual o ato de criação (quem foi o idealizador?)
    2. Quem é o órgão mantenedor?
    3. Qual a destinação orçamentária anual para a sua manutenção?
    4. Gostaria de tomar ciência do seu Regimento Interno ou Regulamento;
    5. Qual a composição da sua diretoria?
    Torcendo pelo sucesso deste novel órgão cultural ponho-me à disposição para colaborar no que me for possível.
    Atencisoamente, João Erismá de Moura, Brasília-DF

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  10. Olá, Erismá Moura, bom dia.
    O Ponto de Cultura "Artes da Terra" é um projeto idealizado pelo Sind. dos Servidores Públicos Municipais de Francis Santos,que após seleção em edital firmou convênio com o Minc e a FUNDAC-PI. O projeto será comtemplado pelo Minc com 3 parcelas no valor de R$ 60.000,00 cada e as demais despesas do ponto serão custeadas através de parcerias com prefeitura, instituições de ensino e amigos do ponto (voluntários). Quanto ao regimento, seguimos o estatudo da instituiçaõ que administra, no caso o sindicato e as normas e exigencias estabelecidas pelo edital 80 pontos de cultura-2008. A diretoria da instituição é composto por 15 membros, os quias listo aqui os que estão á frente do Ponto de Cultura: representante legal do Ponto Ana Carlete, tesoureiro o professor Fernando Lima e a responsável técnica do Ponto, a professora Elizângela Cipriano.O
    ponto de cultura tem como objetivo trabalhar com atividades culturais que venham resgatar os valores artísticos da comunidade tendo como foco o desnvolvimento da potencialidades existentes e a promoçao da inclusão social, para isso contamos com a colaboração de todos e estamos gratos por colocar-se á disposição, com certeza iremos precisar sim do vosso apoio.

    atenciosamente, Ana carlete da Silva-Francisco Santos/PI

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  11. Bom dia, Ana Carlete,
    Primeiramente, quero dizer que minha curiosidade com relação à criação e objetivos do Ponto de Cultura diz respeito apenas a minha alegria em ouvir falar sobre a criação desta nova instituição, antiga reinvindicação minha constante até mesmo em algumas falas. Nada a ver com as minhas atividades desenvolvidas por trinta anos no Tribunal de Contas da União (Auditor Federal de Controle Esterno).
    Segundo, quero agradecer a sua presteza e eficiência em fornecer, com rapidez e transparência, todas as informações que havia soliciado. Estarei aí no início do mês de setembro e gostaria de conhecer as instalações e os membros desta importante instituição cultural. A professora Elizângela Cipriano já a conheço, bem como a sua competência. Desde já me considero AMIGO DO PONTO.
    Com os agradecimentos, Erismá de Moura.

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  12. Senhora Ana Carlete,
    Boa noite.
    Agradeço generosa manifestação sobre o meu livro. Ao tempo em que a parebenizo pela instalação do Ponto de Cultura e Artes.
    Atenciosamente,
    João Bosco

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  13. lendo os comentàrios sobre o livro, acho que foi muito corajoso por parte do meu tio, não sei se foi realmente ele quem escolheu o título.
    que pra mim é só um detalhe.
    eu concordo plenamente com as palavras da cleania em realação ao mesmo.
    muitas pessoas leigas, irão julga-los.
    mais tenho certeza que depois de lerem o livro, iram entender perfeitamente o sentido desse título, que na minha opinião ficou a cara da cidade. nada mais é que pessoas que tem espírito de luta-valente.
    significa: povo valente, guerreiro,esperançoso, que mesmo nos momentos mais dificeis, são sempre prestativos e felizes.

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  14. João Bosco, fiquei extremamente emocionada ao ler trechos que retratam a historia de minha terra. Confesso que não tinha o conhecimento destes fatos. Agora compreendo os motivos que nos levam aos ser religiosos,hospitaleiros, politicos viris e orgulhosos. O sangue que corre em nossas veias são de pessoas fortes, corajosas e que buscam seus ideais, por isso muitos de nós nos aventuramos em terras alheias em busca de melhores condições de vida, mas não nos esquecemos jamais de onde somos e quem somos, e sempre que podemos estamos visitando o nosso paraíso na terra.

    O titulo do livro não poderia ser outro, pois nada retrataria melhor o nosso povo se não Jenipapeiro: A terra dos espritados.

    Parabéns pelo seu trabalho, espero adquirir um exemplar quando estiver passeando por ai no final do ano.

    Sem mais,
    Flarranyelly Santos

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