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sábado, 10 de dezembro de 2011

Crônica do escritor João Bosco em homenagem ao seu pai João Mariano (Seu Loura)

AO MEU PAI(FERRO)




Por: João Bosco da Silva



* - 07.09.1896

† - 07.12.1972

NUNCA MAIS, como antigamente, sentarás no terreiro, lado direito da porta, às 3 horas da tarde. Nunca mais, como antigamente, verás a sombra da casa alongar-se com o decorrer das horas, atingir o tronco do flamboyant, 5 metros adiante, ali pelas 5 horinhas, até fundir-se na imprecisão do lusco-fusco do cair da noite...

Tãum... tãum... tãum... tãum... tãum... tãum...

Seis badaladas mágicas, nostálgicas, compassadas, que o velho sineiro da igrejinha local, um quilômetro acima, fazia repercutir nas tardes de domingo. Atualmente aboliu-se essa prática. A voz do sino, nas ave-marias, fica apenas na lembrança dos saudosistas como eu, ou dos mais chegados na idade...

Nunca mais, como antigamente, verei meu pai, nessas tardes de folga, quedar-se contemplativo ao som daquelas seis badaladas, numa atitude de beatífico respeito, recolhimento e místico temor.

Nunca mais, como antigamente, verei esse quadro tão singelo. Aqui já só parece existir o antigamente. Porque tudo já é decadência, abandono e desolação. Meu pai já não está mais aqui; a casa já não pertence à família Loura. O alto em frente encheu-se de vassourinhas e o flamboyant, galhos retorcidos de angústia e saudade, já não flora mais.

Flamboyant, velho amigo! Continuas aí, já não tão firme como antigamente, mais solitário e com ar de quem chora a prolongada e definitiva ausência de entes tão queridos! Outrora, esconderijo de tanto menino gárrulo - filhos, netos, bisnetos - sob tuas ramagens verdes (eu, inseto a devorar tuas flores rubras), quanta conversa tivemos! Agora, aí isolado, desolado, descuidado - de todos esquecido... Agora, ninguém mais te procura, dia claro ou noite escura, quem sabe de ti? Hoje, nem mesmo ocasional viandante te acena, amistoso. O caminho que levava a ti, acabou-se; a casa, cuja frente adornavas, está a ruir... * E o dono da casa?

Foi passear no céu, em outros Viroveus...

A d e u s ! ! !

* * *

Na casa... velha casa... ninguém mais vive. Não se ouve mais um som de nada. Essa saudade silenciosa e surda não produz som e está muito distante. As árvores... velhas árvores... de em volta - o pereiro-preto; o trapiá de meu pai; o jatobá-de-porco; o jenipapeiro (este bem mais novo); o pé de juá (cortado para servir de ração para o gado na grande seca de 1958) - sumiram todas. Oh, breve transitoriedade das coisas... Eternidade tão breve! Quantos anos? 10, 20, 30?

Que sei eu...

Foste aquele pau-ferro da frente lá de casa - frondoso e firme, e de muitos galhos. Um dia, fogo de seca - 1 9 5 8 - da velha árvore tão forte só o tronco restou.

Hoje, retornando após tantos anos, nem o velho tronco chamuscado, nem tu, meu pai, sempre de filhos e netos rodeado!

O velho pau-ferro, que nos viu nascer, tombou pelo fogo da seca. O velho pai-ferro, que nos fez viver, tombou pelo fogo de tanta vida. Tiveste, meu velho, uma vida plena. Velho Loura, bondoso, justo e amigo, da vida te foste, mas deixaste o exemplo. Só que nenhum de nós consegue exercitar, como tu, as tuas raras virtudes: probidade, trabalho e amor!

Meu bom e querido velho Loura! Conforme a gente conversava, fui o herdeiro de tua velha casa e do teu velho Alto do Trapiá. Mas as vicissitudes da vida me obrigaram a desembaraçar-me de tão preciosos bens. Foi para servir teu filho José, em momento de apertura financeira, que deles me desfiz. Seria uma atitude bem tua: Servir os teus filhos, tudo fazer por eles. Por todos nós.

De onde estiveres, manda-nos as tuas bênçãos.

* * *

A MORTE DE SEU LOURA decretou o fim do seu clã. Os filhos, desnorteados, não encontraram entre si liderança a altura de orientá-los e dirigi-los. Mas a vida havia de continuar. E era preciso vivê-la. E veio a dispersão final.

Maria, mãe de Evangelista, foi o primeiro desfalque: faleceu em 1945. Em 1972 - época do óbito do patriarca - já moravam fora: em São Paulo, Teresa (falecida); Em Picos, Geralda e Camila; em Teresina, Mariano e Céu (falecidos) e eu. Após a morte de nosso pai, arribaram para Araguaína: Mané Loura e Bió (falecidos) e José. Como única e última representante direta, apenas Sança continuaria morando em Francisco Santos, até falecer em 14 de junho de 1984.

João Mariano da Silva!

Do teu grande time, restamos vivos: Geralda, José, Camila e eu.

A nós, que ainda cá estamos, mesmo sem a sombra do teu manto protetor, resta a obrigação de honrar o teu nome e homenagear a tua memória – querido velho!

E os netos? E os bisnetos? Há-os espalhados neste imenso território de brasis, tentando levar a vida. Alguns nem se lembram mais, e outros nem sabem, que um dia existiu um bom velho chamado... Seu Loura.

E m J e n i p a p e i r o ,

hoje Francisco Santos.

Onde fica isso? – perguntarão.

. . . ? ? ?

* Esta crônica foi escrita quando o flamboyant e a casa ainda exisitiam. Agora, nem a árvore amiga, tampouco a casa que me viu nascer.



4 comentários:

  1. Eu não sabia que da grande família só restavam vocês quatro.
    A distância espacial e o tempo têm essa capacidade de nos dispersarmos. Por muito que a nossa vontade ande em sentido contrário, o labor de todo dia junta-se a esses dois inimigos e traçam o destino inexorável das famílias.
    E como doem essa sensação e a saudade!!!
    Lembro-me do velho Loura, de quem muito ouvi meus pais falarem...e de bem. E adoro a minha cunhada Geralda, a quem devo mil favores, quero muito bem e, principalmente, admiro. Sem falar nos demais, gente muito boa e talentoso.
    Clotildes

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  2. Olá, Tio.
    Suas palavras no texto, só demonstra a saudade e o amor pelo seus famíliares.
    Cada detalhe que voce menciona, como: Os Sons, Lugares, o Flamboyant...
    Não está tão distante assim, por isso a homenagem ao seu querido Pai, Irmãos, enfim... as suas origens.

    Eu também tenho boas lembranças do meu Avô, Como minha Mãe dava assistência ao meu Avô, eu ainda criança tava alí, sempre do seu lado.

    Lembro-me bem da partida do meu avô, eu tinha apenas 8 anos, Lembro também da sua chegada com tia sônia.
    Sei o quanto tudo isso te marcou, até mesmo por ser o caçula, acredito que pra voce tenha sido muito difícil.

    Mas o bom Velho Loura, assim como minha Mãe e meus Tios falecidos, Lá de cima, estão olhando por nós e
    nos abençoando... tenho certeza!
    Mônica Silva

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  3. Queremos aplaudir as participações de João Bosco da Silva nos blogs, tanto neste(Fcosantospi.blogspot.com), como no seu proprio blog(joaoboscodasilva.blogspot.com), como neste pequeno espaço que criamos e insistimos em manter ativo(http://blogdaterrinha-jenipapeiro.blogspot.com/) onde ele ajuda a manter acesa a chamar da historia do nosso povo.

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  4. Muito me honra descender desse bom velho chamado seu Loura. E saibas, meu Pai, que suas lindas e emocionantes crônicas - além da vasta descedência que ele deixou - ficarão para eternizá-lo!

    Sônia Mara

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