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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Outro Trecho do Nosso Novo Livro de Francisco Santos - PI


(N)O A R R A I A L

A N T O N I N O – P O L I C A R P E A N O

1. DA TERRA E Suas Românticas Origens

PICOS!

Esse o ponto de referência mais conhecido. Ali, em Picos, a encruzilhada. Marco zero, entroncamento rodoviário do sonho transamazônico dos milicos ditadores. Sonho falido no tocante à integração com a Amazônia.

Picos!

Ponto de encontro das correntes migratórias dentro do Nordeste. E de paragens mais distantes. E, por que não dizer, do Brasil inteiro? Ponto de encontro de arrivistas, especuladores, malfeitores, aventureiros - e de pessoas ditas de bem. Gente decidida a ganhar a vida. Gente que ajuda a fazer a grandeza da terra.

Picos!

Cidade-pólo da microrregião dos baixões agrícolas piauienses. Espécie de escoadouro de riquezas - e de misérias também -, localizado no centro-leste do Estado do Piauí. Guardadas as proporções, pode-se compará-lo ao Recife, do qual disse Gilberto Freire a mesma coisa.

Picos!

Sem desdouro, antes com muita honra e amor: és messe, benesse e quermesse - promessa e realização de todos. Seja dos próprios filhos, seja dos que ali chegam e fincam raízes. Porque a Terra é boa. E generosa. E dela todos se orgulham.

Picos!

Quantos lhe chegam e se deixam ir ficando? Que, de braços abertos, o forasteiro vai sendo acolhido. Ali, o tradicional e o novo vão-se acomodando, armando uma floresta de velhos e novos sobrenomes, a engendrar-lhe viço e vigor, de mistura ao barro, que lhe desce das encostas do morro; ao rio, que lhe lambe as casas, e as leva vez por outra.

Picos!

Caldo e rescaldo de um processo cultural contínuo, a moldar-lhe o que se poderia definir, de modo muito particular, como o modus vivendi picoense.

Picos!

Idolatria de sua gente.

* * *

MAS...

... não é da cidade de Picos que desejamos falar. Muito embora sejamos - e para sempre estejamos - umbilicalmente a ela ligados, queremos falar de GERALHO, nossa terra, berço nosso de tenras e ternas lembranças, sofredouro de santas e inefáveis reminiscências...

Geralho é uma palavra sem registro em dicionário ou mapa. Geralho é, antes de tudo, uma abstração, sem existência concreta. Um lugar imaginário, dos sonhos de Mundico de Boronga... E que, agora, os fazemos nossos. É a nossa terra que nunca foi e jamais será, o que buscamos e já não encontramos.

Etimologicamente, pretende significar: Terra do alho, que gera alho. Mas, como já dissemos, não tem registro. Só existe no nosso ideal. E mesmo, agora, já não se cultiva o alho. Infelizmente. Não feudo, mas - de todos!

G e r a l h o !

Nossa Geralho, ficas ali, pertinho de Picos, 52 quilômetros a leste, subindo a BR-316, em demanda de Pernambuco. Ali, à margem esquerda do rio Riachão, valente afluente do Guaribas, que banha, e destrói vez por outra, a cidade de Picos.

Ficas ali, esquecida, no teu recanto de sal e sol, poeira e vento. Como diz o ditado, ali, "onde o vento faz a curva", o pesado tráfego da BR-316 passa direto, porque és ponto terminal, 14 quilômetros afastada. Ali só vai - além dos teus filhos no seu ir-e-vir de viagens - quem tem negócio. Por isso, por esse infeliz traçado rodoviário, ficaste à margem do progresso. Do rápido progresso. Outra BR, a 020-Fortaleza-Brasília, também te deixa de lado, passando ao largo, embora te rasgue o ventre da mata a oeste, em sentido longitudinal.

Nada não, Geralho. Um dia vencerás, apesar de tudo.

Ficas ali, entre dois chapadões, como muito bem disse o nosso ilustre e imortal poeta Chico Miguel (1966): "Entre dois chapadões - Terra bendita / De alma mais pura do que a branca areia". Dois chapadões que vão descendo, descendo, inclinados, suavemente inclinados, lados direito e esquerdo em oposição, até que, à distância de obra de meia légua, começam os lajeiros. Arenosos aqui, de rochas sedimentares além. Aqui, alteia-se rochedo abrupto; além, fende-se em profundo grotão. Ali, um campestre, um socalco de montanha, onde imperam, espalhadas ao acaso, a pedra-de-fogo e a cabeça-de-jacaré, de permeio a uma flora leve de velame, xiquexique, touceiras de macambira de chapada e quipá. (Esta última dava uma frutinha gostosa! Antes de descascá-la, era preciso esfregá-la na areia com a planta do pé para retirar-lhe os finíssimos espinhos). Na beira dos talhados, a macambira de flecha, com que a meninada fazia alçapões e gaiolas para captura de canários, sofreus e outras aves canoras de nossa ainda rica fauna aviária.

São os tabuleiros, os quais, para mais nada se prestando, são admiráveis celeiros de alimentação de rebanhos e mais rebanhos de ovinos e caprinos.

Vão descendo mais e mais, até atingir o cinturão verde de trapiás, juazeiros, jenipapeiros, muquéns, pajeús, ingazeiras, angicos (o branco e o preto) e as centenárias oiticicas. É o fundo do vale, por onde, no inverno, corre célere o Rio.

Sobre uma ribança de areia fina e frouxa, de forma arredondada, à feição de uma grande meia-lua, à margem esquerda do rio, planta-se: GERALHO.

Geralho!

Terra que Mundico de Boronga sugeriu passasse a chamar-se Geralho, porque lá, alho é (era) vida!

Geralho!

Gente que vive do amanho da terra enfraquecida, a extrair com sangue o sustento, até quando, faltando o alento, nela tombe - exangue!

Geralho!

Mandioca, feijão e alho: tripé econômico de parcas rendas, mas de muito trabalho!

Geralho!

Terra onde "o pão nosso de cada dia" era feijão todo santo dia. Terra nossa - Terra minha -, onde a janta era um prato de coalhada, amarrada com farinha; ou um "fino" moca, com beiju de tapioca...

Geralho!

Nossa Geralho. Por que não nosso Geralho? - no masculino, macho como teus filhos? Por que, ao contrário, te fizemos mulher, te fizemos feminina? Não te fizemos feminina por acaso ou por engano. Foi proposital. Te chamamos de nossa porque és mulher; a mulher de todos os teus filhos. A amante, e a mãe. Mãe-Geralho. A Deusa da Agricultura, a Ceres bendita, a gera­triz - o útero que produz, e a todos alimenta.

GERALHO,

Terra minha, Terra nossa. Terra minha de sol, Terra minha de vento; gostosa areia branca de riacho, meu sal da infância, meu secreto vício. Do suor dos meus pais, do suor dos teus filhos - de mistura ao teu humo escuro e forte -, gostosíssimo sabor de sal.

Geralho,

Terra que eu comia com gosto, quando criança carente. Gostaria que fosses tu a comer a minha carne, dessa forma reincorporando-me ao teu barro forte, quando minha hora chegar. Quem sabe, assim, não possa eu renascer numa árvore, num arbusto, servir de adubo para a relva macia, ou até mesmo para a erva daninha de envolta à sepultura, quando o abandono e o esquecimento chegarem?!

Minha Geralho,

Geralho dos meus sonhos

Jenipapeiro real da minha doce infância,

ou Francisco Santos (que feudo não sejas!,)

mesmo de longe (digam de mim o que disserem):

e u t e a m o !

Sou um ser telúrico.

Nessa crônica-poema, feita pouco depois da elevação de Jenipapeiro à condição de cidade, pudemos expressar todo o nosso amor à terra.

7 comentários:

  1. Gostaria de parabenizar este nobre escritor, pela genialidade e riqueza de detalhes com que fala da nossa amada terra. Quando li os trechos escritos, fiz-me protagonista da história, imaginando e revivendo cada momento muito bem descrito, como se tivesse vendo um filme da minha infância, confesso que fiquei emocionado e feliz. Vai ser um enorme prazer poder lê-lo pro meu filho, que tem apenas 05 anos, embora já saiba ler, pela sua pouca idade, ainda não consegue entender a riqueza da sua obra.
    Nobre Escritor sou filho mais novo de D.Eremita(tocava violão com voce) e seu Getúlio, minha mãe sempre nos falava que havia aprendido a tocar a música ESMERALDA ( Carlos José) com o Senhor, ela pediu pra enviar-lhe abraços !!
    Gilsandro Sales

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  2. Bom dia!!!

    Certamente o texto postado nos faz viajar pela nossa infancia e nos causa imenso deleite. Cada trecho aguça-nos a curiosade de conhecer o livro na íntegra.
    Um abraço a todos,
    Osni Moura

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  3. Meu primo e amigo Erismá, que é inclusive uma referência cultural não só pra nossa família, como também para todos os Franciscossantenses. Anciamos o lançamento deste livro, que trata da biografia de Euclides Borges de Moura, Ticlide, como chamávamos carinhosamente. Não consigo imaginar um momento com ele que não tenha sido alegre, engraçado, saudável, seu jeito peculiar de dizer as coisas, mantedo-se quase sempre sério, sabendo sempre que no final tudo acabava em risos e mais risos.
    Abraços!!!

    Picos-PI
    17 de Setembro de 2010

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  4. Boa tarde!!!

    Caro Erismar,
    Com relacao ao livro sobre "ti seu clide" quero parabenizar-lhe e dizer que muito me orgulha pertencer a esta família. Ratifico as palavras do meu amigo Gilsando, pois lembraremos sempre com muito carinho e respeito de "Ti seu clide", que, a seu modo, sempre cativou seus proximos, quer parentes ou nao. Nao haveria homenagem mais justa e nem ninguem mais gabaritado para fazê-la quanto voce. Indubitavelmente fará parte dos livros que para mim sao relíquias.
    Um abraço a todos ,
    Osni Moura
    Um grande abraço

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  5. João Erismá de Moura17 de setembro de 2010 às 16:02

    Aproveitando este Blog, grande divulgador das notícias de nossa cidade e do seu povo, quero agradecer as palavras elogiosas do primo Gilsandro e do Osni Moura, filho de um primo muito querido. Aumenta a minha responsabilidade pela escrita da história do meu pai. O livro está pronto, já na gráfica e editora para publicação, onde recebeu muitos elogios. Foi sugerido para que seja lançado durante a programação festiva dos 50 anos de autonomia de Francisco Santos. Foi difícil escrevê-lo por tratar-se de pessoa tão simples, humilde e que levou uma vida discretamente. No entanto, existem muitas histórias dos pioneiros que construíram Brasília, a Revolução Militar de 1964, muitas homenagens aos amigos de Euclides e dezenas de fatos interessantes ocorridos com o homenageado. Agradeço a importante manifestação dos dois parentes e conto com suas presenças e de seus amigos no lançamento da obra.
    Com um abraço,
    Erismá de Moura - Brasília-DF.

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  6. Meus caros amigos,
    Sinceros são os meus agradecimentos. São pessoas generosoas como vocês que me fazem seguir adiante.E, Sr. Gilsandro, mando de cá os meus respeitos a sua mãe, Eremita, com que me iniciei nas cordas do violão. Lembro de uma valsa que ela me ensinou. Dizia, mais ou menos assim:"Doce é o nome de mãe/nome de amor e bondade..." E no final: "Deus meu deu a alegria de sempre te amar, ó minha mãe querida". Abrace sua mãe querida, minha querida prefessora de violão. Ela não se iniciu comigo; eu é que me iniciei com ela. E não fui muito à frente, não. Tenho dos dedos duros.
    Abraços a todos
    João Bosco

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  7. Bom Dia , Tio.
    acabei de receber o seu livro

    já dei uma pequena folheada,
    está informando o ínicio da sua emancipação, a origem, seus descendentes e o progresso, daquela década até os dias de hoje.
    os prefeitos de francisco santos,a vida dos primeiros moradores,e ainda com
    ilustrações, isso valoriza ainda mais a intenção do escritor , foi um presente aos leitores.
    diria que seria um livro importante para a biblioteca escolar.
    sinto-me orgulhosa, e agora vou
    viajar nessa HISTÓRIA, conhecer um pouco mais das nossas raízes e nossos ilustres conterraneos.
    isso prova "tio", que voce nunca perdeu o vínculo com a nossa gigante e pequena cidade, o interesse de divulgar um pedacinho da nossa História.

    fico agradecida ,e tenho certeza que esse livro foi feito com muito respeito, amor e dedicação.

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